Ei... Tudo bem? Como vai a vida. A minha vai bem
também. É, realmente tem muito tempo. Faz tempo desde nossa última conversa, não?
Claro, eu entendo a sua decisão meu bem, eu era tão ingênua e sim, apaixonada,
mas isso não importa tanto assim. Não, eu não te esqueci, mas é que com o tempo
aprendi a canalizar tudo isso e fiquei assim, convivendo com você dentro de mim
mesmo de longe. E então, como está de amores? Ah, entendo, é complicado mesmo
terminar um relacionamento. É, um café seria bom. Claro que conheço, aquele
barzinho que toca minhas músicas preferidas e aquelas outras que você adora
dançar. Combinado, às dez estarei pronta.
E foi assim que não aconteceu, mas que acontece em
minha mente a cada noite em que fico aqui, ouvindo uma música que me lembra
você. Não, meu bem, não há uma música específica, mas todas que tenham um
balanço bom e aquele ar de reflexão me levam até seus olhos. Sabe, desde aquele
dia em que engoli o “eu te amo” enquanto ouvia teu adeus, ainda não me
recuperei da minha vontade de me sentar à sua frente e olhar nos teus olhos
mais uma vez, só que dessa vez eu faria diferente. Claro que se eu pudesse
voltar no tempo teria feito tudo igual, mas se pudesse ter outra chance, uma
chance nova, um futuro, seria diferente meu bem. Porque dessa vez talvez eu lhe
olhasse mais, lhe abraçasse mais forte e lhe sorriria a todo instante. Só que
ainda engoliria o meu amor, porque ele foi feito pra ser guardado a sete
chaves. É a única coisa sua que ainda me restou, então prefiro protegê-lo bem.
Você entende, não?
Sei que foi tudo tão de repente. Do nada eu volto
assim dizendo que nunca o esqueci, mas estava tentando e você viu o quanto
tentei. E aí você se diz arrependido de ter ido embora, e que se pudesse voltar
teria tentado outra vez, e eu aqui, com a minha vontade de gritar que ainda
estou aqui pra tentar mais uma vez. Só que dessa vez eu que tenho medo. Eu sei
que disse muitas coisas, confessei o que guardei por esse tempo todo, mas é que
te ver repentinamente me fez sentir o coração pulsando forte novamente, e as
borboletas no estômago ávidas por um céu azul. Sentimentalismo puro meu bem, senti
sua falta. Lembra-se do dia que disse sentir a minha também? Nunca mais tocamos
nesse assunto, será que eu o inventei?
Tudo bem, já parei com essa minha loucura de achar
que ainda teremos outra chance e que eu o encontrarei novamente como era há
tempos atrás. Eram manhãs frias e tristes, mas seu sorriso era tudo o que me
fazia sorrir. Não espero que você me convide pra dançar, mas confesso que
dividir os fones de ouvido com você aquela tarde teve a mesma significância e
por muito tempo, transformei aquela música na nossa própria, assim... em
segredo. Segredo, assim como tudo que dedico a você. Inclusive cada linha disso
aqui.
Laura Ribeiro