E quando sou poeta...

Parece que sou poeta

Apenas quando triste

Quando meus negros olhos

Estão a chorar,

Quando este meu peito tão ferido

Põe-se a soluçar.

Parece que sou poeta

Apenas quando chove mansamente

Quando a dor se aproxima lentamente

Fazendo-me suspirar.

Parece que só consigo rimas

A partir da minha dor

Pois, quando alegre,

Meus versos se transfiguram

Em doces contos de amor.

Parece que sou poeta

Apenas quando triste,

Quando minhas pobres asas

Já não aguentam mais voar.

E quando tudo é escuridão,

Mais segura eu me sinto

E sozinha me ponho a caminhar.

Mas esta solidão é tão triste

Que minh'alma aos céus implora

Pelo direito de enfim sonhar.

Parece que sou poeta

Apenas quando triste,

Quando meus versos estão a rimar

Então larguei a arte

Por querer somente viver.

Se sou poeta apenas quando triste

Então não mais me apetece

Meus sentimentos para o papel transcrever...

Dedico-me aos contos

Pois assim, eu poderei sorrir.

Aqui fica a alma morta do antigo poeta

Aqui se mostra uma outra alma a florir.

Laura Ribeiro

Quando não se tem o que dizer, surgem poemas como este. Que dizem o porquê de não conseguir escrever nenhum poema. Talvez esteja passando de uma fase a outra. Talvez consiga voltar às rimas algum dia. Por enquanto vou escrevendo meus sentimentos sem colocar arte neles, porque depois de um tempo lendo e escrevendo, percebi que a arte da escrita é escrever o que está dentro de si, mostrando em palavras a essência que temos lá no fundo da alma, e tudo aquilo que trazemos guardado no coração.

Depois de um tempo aprendemos que o importante mesmo é escrever.