"Isabel estava branca como a cambraia do seu vestido; sentia a pressão das mãos do moço nas suas e o seu hálito que vinha bafejar-lhe as faces.
- Sim! Mas por quê?
- Porque...
O amor profundo, veemente, que dormia no intimo de sua alma, a paixão abafada e reprimida, por tanto tempo, acordara, e quebrando as cadeias que a retinham, erguia-se impetuosa e indomável.
O simples contato das mãos do moço tinha causado essa revolução; a menina tímida ia transformar-se na mulher apaixonada: o amor ia transbordar do coração como a torrente caudalosa do leito profundo.
As faces se abrasaram; o seio dilatou-se: o olhar envolveu o moço, ajoelhado a seus pés, em fluidos luminosos; a boca entreaberta parecia esperar, para pronunciá-la, a palavra que sua alma devia trazer aos lábios.
Álvaro fascinado a admirava; nunca a vira tão bela; o moreno suave do rosto e do colo da moça iluminava-se de reflexos doces e tinha ondulações tão suaves, que o pensamento ia, sem querer, enlear-se nas curvas graciosas como para sentir-lhe o contato, espreguiçar-se pelas formas palpitantes.
Tudo isto passara rapidamente enquanto Isabel hesitava em proferir a primeira palavra.
Por fim vacilou: reclinando sobre o ombro de Álvaro, como uma flor desfalecida sobre a haste, murmurou:
- Porque... vos amo!"
(Trecho retirado do livro O guarani, de José de Alencar)
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E depois do dito, ele a olhou com espanto... As palavras ditas cravaram-lhe a alma como flechas contendo o mais amargo veneno. Era como uma injúria ao seu amor por Cecília. E mesmo assim, Isabel continuava a olhá-lo, agora tomada por uma sensação estranha, passada a primeira provocada por seu amor mantido em segredo a tanto tempo. Agora que o sentimento escapara do mais profundo de seu coração, ela sorria amargamente, sentindo no olhar do moço, um tom de reprovação... Ela sabia que ele amava Cecília mas, não podia conter o que guardava dentro de si, era algo tão mais grandioso do que o rapaz pudesse sentir por sua prima, e ele talvez soubesse disso, pois, dias após a declaração da bela, sentiu-se como que traindo seu amor por Cecília. Estava a se apaixonar pela jovem dos negros cabelos, estava a enamorar-se pela moça de negros e sedutores olhos que lhe prendera a um olhar tão encantador. Ele estava já preso ao encanto de Isabel. Apenas não queria acreditar... Embora sentisse.
Bem, li este livro por não ter nada melhor para fazer. E qual foi a minha surpresa ao me deparar com uma história linda, envolvente, apaixonante. Realmente julguei o livro pela capa, pelo nome e pelos primeiros capítulos. Entretanto, ao ver o desfecho da narrativa, encantei-me com muitos dos versos que encontrei, principalmente os trechos que envolvem Isabel e Álvaro, por ser um amor tão semelhante ao que escrevo aqui... Algo que ficou em segredo por tanto tempo e quando finalmente rompeu o silêncio, num primeiro instante trouxe espanto e mais dor. Neste livro, encontrei a mais bela demonstração de amor, a mais bela prova... Só não contarei porque senão perde a graça, não é mesmo? Enfim, fica a dica de leitura...
Obs: A última imagem condiz ao livro O Morro dos Ventos Uivante,s de Emily Brönté... Outro livro que recomendo.
- Laura Ribeiro
Eu já estive para ler esse livro e não o li por ter considerado o inicio maçante...
ResponderExcluirDefinitivamente vou lê-lo agora XD
Lindo texto...
Uma perfeita escolha, inspirada e feita para inspirar!!!
;*
jose de alencar não é uma de minhas influências, mas o autor que mais amo e respeito é claramente influenciado por ele. então, josé alencar está de forma indireta em minha inspiração. cinco minutos é lindo e sua resenha está otima.
ResponderExcluirhttp://terza-rima.blogspot.com/