"Minha mente está cheia e eu estou transbordando" [Ira!]
"Acho que mais me imagino do que sou, ou o que sou não cabe no que consigo ser." [Ferreira Gullar]
"Quem fala em flor não diz tudo. Quem fala em dor diz demais. O poeta se torna mudo sem as palavras reais." [Ferreira Gullar]


- Não importa se é sem sentido, não importa se é sem significado. O importante é que escrevo e assim alivio. Seja bem-vindo ao meu mundo e voe por meus versos! Dê os devidos créditos e assim terá um mundo inteiro de palavras onde viver. Esse é meu mundo e se quiser fazer parte dele é só me seguir...

21 de setembro de 2012

Vinte e um - conversa tecida

Ultimamente tenho produzido bastante em comparação ao que produzi durante o ano passado inteiro. Não sei se foi a folga que tive da faculdade, ou se é o estado apaixonado no qual me encontro - calma, é pela vida e pela poesia. Não tenho postado tudo aqui, e também nem são milhares de textos, contos, poesias, coisa e tal. É um pedaço ou outro de pensamento e ultimamente me surgem nas horas mais inoportunas de modo que tenho que sair de casa com um pedaço de papel e caneta, pra não esquecer. Sabe quando as palavras fluem assim, parecendo vir do nada? Entretanto elas não vêm do nada, não. Elas vêm de dentro, de um canto que deixamos de lado, como se não tivesse mais utilidade, mas tem sim e se mostra agora. Escrevo o que penso, sinto e vivo, mas isso não é segredo pra quem já me acompanha há um tempo. O fato é que aqui tenho postado apenas sobre amores, desilusões e etc. E estou pensando seriamente em misturar tudo o que posto, estou pensando em escrever sobre coisas aleatórias como as que tenho perdidas em alguns cadernos por aqui. 
Agora que a greve das universidades federais acabou definitivamente, não terei tempo para mais nada e provavelmente o blog ficará sem postagens novamente, entretanto, penso que ainda estarei produzindo, porque inspiração não me falta. E isso é de fato muito bom. 

12 de setembro de 2012

Olhos de amêndoa e pele de lua cheia



Mais uma noite em que ele se via perante o seu desejo. Ela era especialmente linda, com seus cabelos negros e lisos, aquele olhar intrigante e um sorriso fácil. Os olhos amendoados e que pareciam lhe dizer: “fique pra sempre”. Ele não a amava de fato, mas amava ter o corpo junto do dela, e as carícias que ela lhe fazia, os beijos quentes e as mãos macias e que lhe buscavam. A pele dela era morena e macia, mas rígida ao toque, e ela sempre ria quando ele lhe apertava os ombros. Eles se desejavam de um jeito único, só deles, mas de um jeito que muitos já imaginavam e talvez já o tivessem feito. Ela esperava pelas carícias e quando começava, ficava parada esperando por mais. E ele esperava mais ação, mas tudo bem, porque ela lhe acendia desejos ardentes e lhe queria além dos lençóis.

Em sua mente, quando terminavam e se perdiam em delírios de gozo, vinha uma sombra com tênues linhas. À medida que ia imaginando, a imagem se concretizava e surgia frente a teus olhos da mente, a dama de seus sonhos. Ela era linda, além do que as palavras poderiam dizer. Tinha os cabelos mais longos que já vira, negros e perfeitamente cacheados que lhe chegavam abaixo da cintura. Ela tinha uma pele tão branca quanto a lua em sua noite de esplendor, e era tão macia quanto o toque no veludo. Seus olhos eram pequenos e puxados, com sobrancelhas marcantes que davam um toque de olhar profundo e que parecia dizer: “não deixarei você ir”. Suas carícias eram regadas de paixão e ao mesmo tempo, carinho. Seus beijos lhe percorriam o corpo com curiosidade e também como se já soubessem de cada canto, como tocar, e como molhar a pele dele. Ela parecia conhecer a forma exata de deixá-lo completamente em êxtase puro, e o fazia de uma forma sutil e marcante também. Porque ela lhe tocava com vontade, e queria dar prazer ao amado, e parecia que isso lhe dava prazer da mesma forma. E porque ela ficava presa nos olhos de seu querido, como a caça fica presa aos olhos de seu caçador, mas ali não era relação de presa e predador, era só uma relação afetuosa de dois amantes buscando sentir algo pleno. Fundir dois corpos num só e ao mesmo tempo não deixarem os seus próprios corpos, pelo contrário, sentir cada sensação, cada toque, cada beijo quente e molhado.
De olhos fechados ele desejava lá no fundo da alma, que fosse ela quando ele os abrisse. Ele desejava que fosse a dama de seus sonhos que estivesse envolta em seus braços naquela cama, por baixo dos lençóis frios. E que fosse ela que o acordaria com beijos doces e sorrisos únicos.

E quando os abriu, não era a dama de seus sonhos, mas sim a mulher de seus desejos. E novas carícias quentes começariam, com palavras sussurradas ao pé do ouvido. E com ele sendo mais ativo, mais quente e envolvente a cada beijo. Chegavam ao êxtase e tomavam um banho, preparavam alguma coisa, comiam e dormiam novamente abraçados. E ele sonhando com a dama de seus sonhos, esperando o dia em que a veria e a teria de novo. Esperando o dia em que pudesse se perder naquele seio, naqueles beijos que se encaixavam com os seus, naquele olhar que agora lhe perturbava um pouco por estarem tão distantes. E se sentia mal também, por não ser ela ali, mas por gostar da mulher de seus desejos. Gostava de tê-la como amante e de como ela o queria. Mas ela pedia e sussurrava dizendo ‘fique comigo’ enquanto a dama de seus sonhos o prendia livremente e o beijava dizendo ‘não o deixarei partir’. A mulher de seus desejos o tocava segurando-o como se tivesse medo dele levantar daquela cama e sair, enquanto a mulher de seus sonhos o acariciava deixando-o livre para acariciá-la também, sem segurá-lo, sem prendê-lo, porque parecia saber que ele já estava ali junto dela e que não iria assim sem mais nem menos. Ele queria era aqueles lençóis com cachos e pele de lua cheia. Mas não conseguia se desligar dos olhos de amêndoas e risos fáceis. A escolha era difícil e embora quisesse deixar as coisas como estavam, queria alguém para dividir o chocolate quente e o cobertor na frente da lareira. E seria com a alma aventureira que partilhava das mesmas vontades. A dama de seus sonhos linda e única. Macia, e com pele de lua cheia.


Laura Ribeiro

10 de setembro de 2012

Quando teus cachos prendem os nós de meus dedos

E aí eu vejo tua cara embaçada de frente pra minha amassada. Acordamos depois de uma noite juntos e eu me pergunto se tudo foi real mesmo, ou se fui apenas mais uma que se deitou do teu lado e fez carinho na tua barba enquanto você sorria e pegava meus cachos nos teus dedos. 
Sabe, é tudo tão estranho como as coisas tendem a acontecer. Um dia apenas conversávamos sobre aventuras, medos, músicas, sonhos. E no outro nos beijávamos e entre um abraço e outro apenas ficava aquele olhar de "quero mais" e "eu sei que é complicado, mas fica mais um pouco". Em uma noite éramos apenas amigos de conversar aleatoriamente até dar sono. E em outra ficávamos segurando o sono até as 4 da madrugada porque estava um papo bom e sabe como é, dormir podia ser deixado de canto um pouco. Mas aí, eu te abraço e você me aperta como se não existisse nada além de nós dois, aquela cama e aquele quarto. Você me prende nos teus cachos e os meus grudam em tua pele suada, coisa de quem acabou de amar. E eu te olho com aquele olhar profundo que provoca, eu sei que te prendo e não te solto, até o último minuto em que também preciso ir. 
Você sorri e eu me perco naquele beijo que se encaixa perfeitamente no meu pescoço. E quando a tua respiração quente chega na minha nuca, o mundo gira tão rápido que quando me vejo já estou despida de minha timidez e estou lhe segredando desejos com o olhar. Você sorri de novo, só que dessa vez tem um quê de malícia e diz algo como "você é tão linda", eu dou aquele sorriso frouxo e doce, mas é só porque eu sei que você não vai resistir e começará a me beijar de novo com mais paixão.
Agora meu anjo, estamos assim. Eu aqui e você aí. Não vejo tua cara embaçada, nem você vê a minha amassada, coisa de quem acabou de acordar. Eu estou aqui imaginando como seria tomar café da tarde com você e dar gargalhadas vendo algum filme de comédia, ou então conversarmos sobre livros, sonhos, música, aventuras. Fico pensando como seria planejar nossa fuga para Stonehenge, daquele jeito que sonhei, com a lua gigante atrás das pedras e dizendo "aproveitem o silêncio da noite, só há eu aqui", ou então irmos para aquele chalé no bosque, com chocolate quente e um cobertor bem pequeno, para que ficássemos bem juntos trocando calor. 
E quer saber de uma coisa? Isso é demais mesmo! Assim, sem palavras difíceis, metáforas elaboradas ou outras coisas. Conosco não há essa de 'meios termos' ou 'eu-quero-mas-tenho-medo'. Não. Conosco é tudo assim, limpo e lindo. Sem dar nomes ou formas, apenas sentindo e vivendo. 
Porque estar com você é ir ao céu desejando o teu inferno, coisa que só você pode entender. E não há nenhuma porta entre nós além daquela que abre meu quarto, não há empecilhos querido. Podemos agora nos deitar novamente para que meus cachos prendam na tua pele e os teus se enrolem nos meus dedos? Stonehenge nos aguarda. Não se preocupe, estou levando chocolate quente suficiente para uma fuga completa. ['Cause I'm the one who waits for you]

9 de setembro de 2012

Um pouco mais amargo, por favor



Antes que pense que isso tudo aqui são indiretas e palavras engasgadas, eu quero que saiba. São mesmo.

Sempre que escrevia algo que não era direcionado a você de fato, você vinha com paus e pedras nas mãos, e ainda me acorrentava em seus arames farpados como se fosse bom me acusar de palavras que me surgiram apenas, e não foram sentidas de verdade por mim. O que você  não entende é que tenho alma de poeta, e como tal escrevo a vida, os seus dissabores e doçuras. E a vida não sou só eu e você. Há outras pessoas no mundo,se lembra? Pessoas que amam, sentem, alegram e sofrem também. E muitas vezes, é pensando nessas pessoas que escrevo, desabafo infortúnios roubados e que me inspiram assim ilegalmente. Tudo bem, não são meus sentimentos então não me dê créditos, por favor.

É tão triste como você só decidiu enxergar minha poesia agora, que acabou. E não me venha com “ah eu não sabia”, porque de um jeito ou de outro eu fazia de tudo para que visse, para que descobrisse. E quando lhe mostrei você disse algo como “vou ler depois” e nada. E enquanto lhe foram direcionadas poesias, contos e amores, sem comentários, críticas, reclamações ou “obrigado, amor”. Nada.

Agora você me vem com: “por que disse tudo aquilo? Não precisava ser tão cruel”, ou talvez nem fosse isso o que queira ter dito, mas assim fica mais poético e ácido de se dizer, sabe? Sim, transformei nossos infortúnios em conto também. Mas dessa vez sem dramas e nem uma linha sequer de ultra-romantismo, por que quer saber? Cansei. Dessa vez não citarei Álvares nem outros tão belos amantes, porque é só um desabafo mesmo, inspirado em brigas e desalentos. Desencantos e desafetos. Mas que são meus e seus e por isso posso dar os créditos a mim mesma, mas as consequências eu deixo todas a você.

Não quero resposta, nem briga. É um desabafo, e só!

3 de setembro de 2012

Ácido e pimenta


Ela já estava cansada de desabafar para uma folha de papel, mas como não o fazer se todos a sua volta não eram obrigados a escutar as ladainhas que já pareciam ensaiadas? Então escrevia loucamente, como se fosse aquela a única folha de papel na qual pudesse despejar os delírios, a raiva, a incompreensão ou a compreensão exagerada, a acidez, o amor, a dor, tudo. Sempre era amor e lágrimas, ou amor e sorrisos, mas raramente era ácido e pimenta. Só que agora precisava despejar naquele papel as palavras mais vis e ácidas que poderia encontrar, não se preocupava em definir situações ou sentimentos, porque talvez na raiva coubesse tudo o que teria no dicionário.
Era simples: estava cansada e inconformada. Cansada de tanta infantilidade da parte de quem se achava o mais adulto de todos e o namorado perfeito. Não, ele não era adulto e tampouco o namorado perfeito. E inconformada por tanta mediocridade que poderia existir naquele copo de café frio que parecia os atos e palavras de quem ela dividira o colchão e o porta-escova-de-dentes por mais de um ano. Tá certo, eram apenas uns 400 dias entre indas e vindas da casa de um e outro, mas se era mais de uns dois ou três meses - data limite e prazo de validade para todos os seus outros relacionamentos -, era sinal de que importava e não era banal como agora parecia.  Então vinha a pergunta de "como aguentei todo esse tempo?" ou "como não enxerguei isso antes?", ou pior, "como ele pensa essas coisas de mim?", perguntas crueis e amargas, não? Mas era isso mesmo. Como pôde?
E a toda lembrança de atos infundados o pH da escrita diminuía e agora parecia beirar os 2 e alguma coisa, e dessa vez não se sentia culpada em deixar o tampão de lado porque queria que tudo se ferrasse, assim nesses termos chulos e baixos mesmo. Poesia simplesmente não existia para o que fora um relacionamento à beira do colapso a cada palavra dirigida a outro homem que não fizesse parte da rodinha de amigos gays, ou  amigos dele mesmo. Culpa do maldito ciúmes, era a desculpa que ele usava para justificar os atos infantis que praticava e as ceninhas dramáticas que reproduzia durante as madrugadas em que bebia além da conta, e quer saber? ela detestava quando ele bebia, não pelo álcool, mas pelo cheiro. Era tudo cheiro e visão e aquele conjunto simplesmente se desconjuntava nele quando o fazia. Era ridícula a maneira como tentava se enturmar e parecer o cara legal e maduro do círculo quando era apenas desespero. Por isso estava cansada e agora tinha a certeza absoluta de que não poderia manter sua escova-de-dentes na casa dele, nem a dele na sua. O pH baixara já pra 1 e a corrosão se dera por completo quando ele num último ato de ciúmes insinuara coisas a seu respeito para terceiros. Seria muito nesse momento pedir para que ele fosse embora sem olhar pra trás e que nunca mais a olhasse nos olhos? Até porque não parecia digno disso. 
Os comentários picantes não seriam no bom sentido, claro. Apimentado não pelo calor, mas pela vontade de água e de apagar aquilo tudo que há muito se extinguira e deixara aquele odor de pimenta velha. Sim, parecia isso: azeite velho com pimenta passada. O curtimento nesse caso já havia passado da validade e ela não estava nem um pouco a fim de ficar sequer com o frasco. Lixo. 
E então ele vinha fazendo beicinho, dramas, chantagens, batia o pé no chão. E ela indiferente, seguia como se nem o conhecesse. Homem com dor de cotovelo é pior que criança mimada e birrenta. Que fizesse pirraça então, se jogasse no chão e desse um show. Mas que soubesse de uma coisa: ela sequer aplaudiria, por já não estar mais na plateia. 

Laura Ribeiro