Ser criança na minha época

Você se lembra de quando era criança?

Lembra-se dos seus sonhos, dos seus medos, suas vontades e desejos? Lembra-se do quanto era bom viver sem procupações, sem responsabilidades senão a de ser criança? Lembra-se de como era feliz assim?

Bem, eu me lembro.

E o que era ser criança na minha época?

Era correr pelo quintal de casa sem me preocupar com um possível tombo o que geralmente acontecia. Então, não tinha vergonha em chorar e depois, levantar e sair correndo de novo sem me preocupar em lavar o arranhão no joelho. Até porque na minha época, Merthiolate ardia. Ser criança naquela época era se pendurar de ponta cabeça nas árvores, ou comer as frutas direto do pé, sem ficar se preocupando com agrotóxicos. Eu gostava de jogar bola com meus primos e naquela época ninguém te julgava pelas brincadeiras, não haviam discriminações. Deitar na grama, olhar pro céu e não ter vergonha de dar nomes às nuvens, era a coisa mais natural e saudável. Ficar horas deitada na rede balançando e sentindo o vento bater no rosto e ver as folhas das árvores no ir e vir dos galhos.

Ser criança naquela época, significava brincar de bolinha de gude, pega-pega, esconde-esconde, comer algodão doce no parque de diversões. Deliciar-se com umas voltas de carrossel, ter medo de escuro. Era também gostar de filmes infantis, viajar com o Pequeno Urso e ter várias aventuras com outros personagens de desenhos animados. Ser criança naquela época era brincar usando a própria imaginação. Video game já existia sim. Mas, eu nem me importava com isso. O mais gostoso era jogar com os bonequinhos de plástico mesmo, ou com peteca, pião e aqueles discos voadores.

Naquela época imaginava que bolinhos de chuva era pra se comer apenas em dias chuvosos. Bolo de fubá nas tardes de sábado. Sorvete no domingo. E leite com biscoitos toda noite antes de dormir.

Os monstros tinham nomes engraçados como bicho-papão e o homem do saco não metia medo por ser estuprador, era apenas um homem que levava embora as crianças que desobedeciam os pais.

Naquela época ainda se acreditava em Papai Noel, fada dos dentes e coelhinho da páscoa. As crianças eram inocentes até os dez anos de idade ou mais. Os meninos ainda brincavam de carrinho e as meninas de boneca. Brincar de casinha ainda era algo saudável e não um ensaio para a vida real.

Enfim, ser criança naquela época era sinônimo de brincar com coisas saudáveis, correr, cair, se machucar, errar sem medo, viver sem preocupações. Naquela época ser criança era ser feliz.

Responsabilidade era coisa de gente grande. Os sonhos eram inocentes e possíveis. Os amigos imaginários eram a companhia ideal e não sinônimo de alucinações. Não sabia o que eram as drogas embora já existissem. A gente chamava os pais sempre por "senhor" e "senhora". Ir para a casa da vó era sinônimo de felicitade total, já que dava pra brincar a vontade, tomar banho de chuva, brincar na lama, dar banho no cachorro, fazer guerra de travesseiro.

Na minha época, ser criança era ser você mesmo e se orgulhar de ser assim. Era sorrir cada vez que um dente caia, crente de que ganharia um doce da fada dos dentes caso colocasse o dente embaixo do travesseiro. Não era preciso muito pra estar feliz. Não era preciso coisas grandiosas pra SER feliz. Naquela época se acreditava em contos de fadas, como se a vida fosse assim. Os velhinhos na rua eram sinônimos de respeito e experiência de vida, não de pedofilia. Podia-se confiar nas pessoas. Nos preocupávamos apenas com desconhecidos. E os vizinhos eram nossos melhores amigos.

Ser criança na minha época era ser assim...