Agora que a greve das universidades federais acabou definitivamente, não terei tempo para mais nada e provavelmente o blog ficará sem postagens novamente, entretanto, penso que ainda estarei produzindo, porque inspiração não me falta. E isso é de fato muito bom.
"Minha mente está cheia e eu estou transbordando" [Ira!]
"Acho que mais me imagino do que sou, ou o que sou não cabe no que consigo ser." [Ferreira Gullar]
"Quem fala em flor não diz tudo. Quem fala em dor diz demais. O poeta se torna mudo sem as palavras reais." [Ferreira Gullar]
- Não importa se é sem sentido, não importa se é sem significado. O importante é que escrevo e assim alivio. Seja bem-vindo ao meu mundo e voe por meus versos! Dê os devidos créditos e assim terá um mundo inteiro de palavras onde viver. Esse é meu mundo e se quiser fazer parte dele é só me seguir...
21 de setembro de 2012
Vinte e um - conversa tecida
Ultimamente tenho produzido bastante em comparação ao que produzi durante o ano passado inteiro. Não sei se foi a folga que tive da faculdade, ou se é o estado apaixonado no qual me encontro - calma, é pela vida e pela poesia. Não tenho postado tudo aqui, e também nem são milhares de textos, contos, poesias, coisa e tal. É um pedaço ou outro de pensamento e ultimamente me surgem nas horas mais inoportunas de modo que tenho que sair de casa com um pedaço de papel e caneta, pra não esquecer. Sabe quando as palavras fluem assim, parecendo vir do nada? Entretanto elas não vêm do nada, não. Elas vêm de dentro, de um canto que deixamos de lado, como se não tivesse mais utilidade, mas tem sim e se mostra agora. Escrevo o que penso, sinto e vivo, mas isso não é segredo pra quem já me acompanha há um tempo. O fato é que aqui tenho postado apenas sobre amores, desilusões e etc. E estou pensando seriamente em misturar tudo o que posto, estou pensando em escrever sobre coisas aleatórias como as que tenho perdidas em alguns cadernos por aqui.
12 de setembro de 2012
Olhos de amêndoa e pele de lua cheia
Mais uma noite em que ele se
via perante o seu desejo. Ela era especialmente linda, com seus cabelos negros
e lisos, aquele olhar intrigante e um sorriso fácil. Os olhos amendoados e que
pareciam lhe dizer: “fique pra sempre”. Ele não a amava de fato, mas amava ter
o corpo junto do dela, e as carícias que ela lhe fazia, os beijos quentes e as
mãos macias e que lhe buscavam. A pele dela era morena e macia, mas rígida ao
toque, e ela sempre ria quando ele lhe apertava os ombros. Eles se desejavam de
um jeito único, só deles, mas de um jeito que muitos já imaginavam e talvez já
o tivessem feito. Ela esperava pelas carícias e quando começava, ficava parada
esperando por mais. E ele esperava mais ação, mas tudo bem, porque ela lhe
acendia desejos ardentes e lhe queria além dos lençóis.
Em sua mente, quando
terminavam e se perdiam em delírios de gozo, vinha uma sombra com tênues
linhas. À medida que ia imaginando, a imagem se concretizava e surgia frente a teus
olhos da mente, a dama de seus sonhos. Ela era linda, além do que as palavras
poderiam dizer. Tinha os cabelos mais longos que já vira, negros e
perfeitamente cacheados que lhe chegavam abaixo da cintura. Ela tinha uma pele
tão branca quanto a lua em sua noite de esplendor, e era tão macia quanto o
toque no veludo. Seus olhos eram pequenos e puxados, com sobrancelhas marcantes
que davam um toque de olhar profundo e que parecia dizer: “não deixarei você
ir”. Suas carícias eram regadas de paixão e ao mesmo tempo, carinho. Seus
beijos lhe percorriam o corpo com curiosidade e também como se já soubessem de
cada canto, como tocar, e como molhar a pele dele. Ela parecia conhecer a forma
exata de deixá-lo completamente em êxtase puro, e o fazia de uma forma sutil e
marcante também. Porque ela lhe tocava com vontade, e queria dar prazer ao
amado, e parecia que isso lhe dava prazer da mesma forma. E porque ela ficava
presa nos olhos de seu querido, como a caça fica presa aos olhos de seu
caçador, mas ali não era relação de presa e predador, era só uma relação
afetuosa de dois amantes buscando sentir algo pleno. Fundir dois corpos num só
e ao mesmo tempo não deixarem os seus próprios corpos, pelo contrário, sentir
cada sensação, cada toque, cada beijo quente e molhado.
De olhos fechados ele desejava
lá no fundo da alma, que fosse ela quando ele os abrisse. Ele desejava que
fosse a dama de seus sonhos que estivesse envolta em seus braços naquela cama,
por baixo dos lençóis frios. E que fosse ela que o acordaria com beijos doces e
sorrisos únicos.
E quando os abriu, não era a
dama de seus sonhos, mas sim a mulher de seus desejos. E novas carícias quentes
começariam, com palavras sussurradas ao pé do ouvido. E com ele sendo mais
ativo, mais quente e envolvente a cada beijo. Chegavam ao êxtase e tomavam um
banho, preparavam alguma coisa, comiam e dormiam novamente abraçados. E ele
sonhando com a dama de seus sonhos, esperando o dia em que a veria e a teria de
novo. Esperando o dia em que pudesse se perder naquele seio, naqueles beijos
que se encaixavam com os seus, naquele olhar que agora lhe perturbava um pouco
por estarem tão distantes. E se sentia mal também, por não ser ela ali, mas por
gostar da mulher de seus desejos. Gostava de tê-la como amante e de como ela o
queria. Mas ela pedia e sussurrava dizendo ‘fique comigo’ enquanto a dama de
seus sonhos o prendia livremente e o beijava dizendo ‘não o deixarei partir’. A
mulher de seus desejos o tocava segurando-o como se tivesse medo dele levantar
daquela cama e sair, enquanto a mulher de seus sonhos o acariciava deixando-o
livre para acariciá-la também, sem segurá-lo, sem prendê-lo, porque parecia
saber que ele já estava ali junto dela e que não iria assim sem mais nem menos.
Ele queria era aqueles lençóis com cachos e pele de lua cheia. Mas não
conseguia se desligar dos olhos de amêndoas e risos fáceis. A escolha era
difícil e embora quisesse deixar as coisas como estavam, queria alguém para
dividir o chocolate quente e o cobertor na frente da lareira. E seria com a
alma aventureira que partilhava das mesmas vontades. A dama de seus sonhos
linda e única. Macia, e com pele de lua cheia.
Laura Ribeiro
10 de setembro de 2012
Quando teus cachos prendem os nós de meus dedos
E aí eu vejo tua cara embaçada de frente pra minha amassada. Acordamos depois de uma noite juntos e eu me pergunto se tudo foi real mesmo, ou se fui apenas mais uma que se deitou do teu lado e fez carinho na tua barba enquanto você sorria e pegava meus cachos nos teus dedos.
Sabe, é tudo tão estranho como as coisas tendem a acontecer. Um dia apenas conversávamos sobre aventuras, medos, músicas, sonhos. E no outro nos beijávamos e entre um abraço e outro apenas ficava aquele olhar de "quero mais" e "eu sei que é complicado, mas fica mais um pouco". Em uma noite éramos apenas amigos de conversar aleatoriamente até dar sono. E em outra ficávamos segurando o sono até as 4 da madrugada porque estava um papo bom e sabe como é, dormir podia ser deixado de canto um pouco. Mas aí, eu te abraço e você me aperta como se não existisse nada além de nós dois, aquela cama e aquele quarto. Você me prende nos teus cachos e os meus grudam em tua pele suada, coisa de quem acabou de amar. E eu te olho com aquele olhar profundo que provoca, eu sei que te prendo e não te solto, até o último minuto em que também preciso ir.
Você sorri e eu me perco naquele beijo que se encaixa perfeitamente no meu pescoço. E quando a tua respiração quente chega na minha nuca, o mundo gira tão rápido que quando me vejo já estou despida de minha timidez e estou lhe segredando desejos com o olhar. Você sorri de novo, só que dessa vez tem um quê de malícia e diz algo como "você é tão linda", eu dou aquele sorriso frouxo e doce, mas é só porque eu sei que você não vai resistir e começará a me beijar de novo com mais paixão.
Agora meu anjo, estamos assim. Eu aqui e você aí. Não vejo tua cara embaçada, nem você vê a minha amassada, coisa de quem acabou de acordar. Eu estou aqui imaginando como seria tomar café da tarde com você e dar gargalhadas vendo algum filme de comédia, ou então conversarmos sobre livros, sonhos, música, aventuras. Fico pensando como seria planejar nossa fuga para Stonehenge, daquele jeito que sonhei, com a lua gigante atrás das pedras e dizendo "aproveitem o silêncio da noite, só há eu aqui", ou então irmos para aquele chalé no bosque, com chocolate quente e um cobertor bem pequeno, para que ficássemos bem juntos trocando calor.
E quer saber de uma coisa? Isso é demais mesmo! Assim, sem palavras difíceis, metáforas elaboradas ou outras coisas. Conosco não há essa de 'meios termos' ou 'eu-quero-mas-tenho-medo'. Não. Conosco é tudo assim, limpo e lindo. Sem dar nomes ou formas, apenas sentindo e vivendo.
Porque estar com você é ir ao céu desejando o teu inferno, coisa que só você pode entender. E não há nenhuma porta entre nós além daquela que abre meu quarto, não há empecilhos querido. Podemos agora nos deitar novamente para que meus cachos prendam na tua pele e os teus se enrolem nos meus dedos? Stonehenge nos aguarda. Não se preocupe, estou levando chocolate quente suficiente para uma fuga completa. ['Cause I'm the one who waits for you]
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9 de setembro de 2012
Um pouco mais amargo, por favor
Antes que pense que isso tudo
aqui são indiretas e palavras engasgadas, eu quero que saiba. São mesmo.
Sempre que escrevia algo que
não era direcionado a você de fato, você vinha com paus e pedras nas mãos, e
ainda me acorrentava em seus arames farpados como se fosse bom me acusar de
palavras que me surgiram apenas, e não foram sentidas de verdade por mim. O que
você não entende é que tenho alma de
poeta, e como tal escrevo a vida, os seus dissabores e doçuras. E a vida não
sou só eu e você. Há outras pessoas no mundo,se lembra? Pessoas que amam,
sentem, alegram e sofrem também. E muitas vezes, é pensando nessas pessoas que
escrevo, desabafo infortúnios roubados e que me inspiram assim ilegalmente.
Tudo bem, não são meus sentimentos então não me dê créditos, por favor.
É tão triste como você só
decidiu enxergar minha poesia agora, que acabou. E não me venha com “ah eu não
sabia”, porque de um jeito ou de outro eu fazia de tudo para que visse, para
que descobrisse. E quando lhe mostrei você disse algo como “vou ler depois” e
nada. E enquanto lhe foram direcionadas poesias, contos e amores, sem
comentários, críticas, reclamações ou “obrigado, amor”. Nada.
Agora você me vem com: “por
que disse tudo aquilo? Não precisava ser tão cruel”, ou talvez nem fosse isso o
que queira ter dito, mas assim fica mais poético e ácido de se dizer, sabe?
Sim, transformei nossos infortúnios em conto também. Mas dessa vez sem
dramas e nem uma linha sequer de ultra-romantismo, por que quer saber? Cansei.
Dessa vez não citarei Álvares nem outros tão belos amantes, porque é só um
desabafo mesmo, inspirado em brigas e desalentos. Desencantos e desafetos. Mas
que são meus e seus e por isso posso dar os créditos a mim mesma, mas as consequências
eu deixo todas a você.
Não quero resposta, nem briga.
É um desabafo, e só!
3 de setembro de 2012
Ácido e pimenta
Ela já estava cansada de desabafar para uma folha de papel, mas como não o fazer se todos a sua volta não eram obrigados a escutar as ladainhas que já pareciam ensaiadas? Então escrevia loucamente, como se fosse aquela a única folha de papel na qual pudesse despejar os delírios, a raiva, a incompreensão ou a compreensão exagerada, a acidez, o amor, a dor, tudo. Sempre era amor e lágrimas, ou amor e sorrisos, mas raramente era ácido e pimenta. Só que agora precisava despejar naquele papel as palavras mais vis e ácidas que poderia encontrar, não se preocupava em definir situações ou sentimentos, porque talvez na raiva coubesse tudo o que teria no dicionário.
Era simples: estava cansada e inconformada. Cansada de tanta infantilidade da parte de quem se achava o mais adulto de todos e o namorado perfeito. Não, ele não era adulto e tampouco o namorado perfeito. E inconformada por tanta mediocridade que poderia existir naquele copo de café frio que parecia os atos e palavras de quem ela dividira o colchão e o porta-escova-de-dentes por mais de um ano. Tá certo, eram apenas uns 400 dias entre indas e vindas da casa de um e outro, mas se era mais de uns dois ou três meses - data limite e prazo de validade para todos os seus outros relacionamentos -, era sinal de que importava e não era banal como agora parecia. Então vinha a pergunta de "como aguentei todo esse tempo?" ou "como não enxerguei isso antes?", ou pior, "como ele pensa essas coisas de mim?", perguntas crueis e amargas, não? Mas era isso mesmo. Como pôde?
E a toda lembrança de atos infundados o pH da escrita diminuía e agora parecia beirar os 2 e alguma coisa, e dessa vez não se sentia culpada em deixar o tampão de lado porque queria que tudo se ferrasse, assim nesses termos chulos e baixos mesmo. Poesia simplesmente não existia para o que fora um relacionamento à beira do colapso a cada palavra dirigida a outro homem que não fizesse parte da rodinha de amigos gays, ou amigos dele mesmo. Culpa do maldito ciúmes, era a desculpa que ele usava para justificar os atos infantis que praticava e as ceninhas dramáticas que reproduzia durante as madrugadas em que bebia além da conta, e quer saber? ela detestava quando ele bebia, não pelo álcool, mas pelo cheiro. Era tudo cheiro e visão e aquele conjunto simplesmente se desconjuntava nele quando o fazia. Era ridícula a maneira como tentava se enturmar e parecer o cara legal e maduro do círculo quando era apenas desespero. Por isso estava cansada e agora tinha a certeza absoluta de que não poderia manter sua escova-de-dentes na casa dele, nem a dele na sua. O pH baixara já pra 1 e a corrosão se dera por completo quando ele num último ato de ciúmes insinuara coisas a seu respeito para terceiros. Seria muito nesse momento pedir para que ele fosse embora sem olhar pra trás e que nunca mais a olhasse nos olhos? Até porque não parecia digno disso.
Os comentários picantes não seriam no bom sentido, claro. Apimentado não pelo calor, mas pela vontade de água e de apagar aquilo tudo que há muito se extinguira e deixara aquele odor de pimenta velha. Sim, parecia isso: azeite velho com pimenta passada. O curtimento nesse caso já havia passado da validade e ela não estava nem um pouco a fim de ficar sequer com o frasco. Lixo.
E então ele vinha fazendo beicinho, dramas, chantagens, batia o pé no chão. E ela indiferente, seguia como se nem o conhecesse. Homem com dor de cotovelo é pior que criança mimada e birrenta. Que fizesse pirraça então, se jogasse no chão e desse um show. Mas que soubesse de uma coisa: ela sequer aplaudiria, por já não estar mais na plateia.
Laura Ribeiro
11 de agosto de 2012
A menina e suas borboletas
Imagem: Google imagens
Espera. Era aquela sensação mesmo? Será que ainda havia
alguma primavera ali dentro que lhe pudesse dar as borboletas no estômago? Há
tanto tempo não se sentia assim, desacostumara-se com a sensação gostosa de um
beijo quente, um afago suave e um abraço apertado com gosto de saudade. Não se
lembrava mais a diferença entre um suspiro de sonho e o de cansaço. Eram ambos
relativos e quer saber? Era o mesmo movimento com os ombros, só que era lá
dentro dela que mudava tudo. Já não conseguia apreciar as tardes de sorvete
porque não tinha tempo, não havia com quem partilhar um sorriso melado e um céu
cheio de estrelas. Para ela essas coisas tinham tanta importância, e agora se
dava conta de que não se lembrava do dia em que tudo perdeu a cor, quando foi
que passou a ignorar a lua, tua companheira até então. Não lembrava mais quando
foi que o pôr-do-sol não lhe era mais um espetáculo divino de se ver sentado na
grama de mãos dadas com o coração do outro. Não lembrava sequer, da última vez
em que amara a si própria, a deslumbrar a imagem refletida no espelho. E se
culpava por todas as belas tardes nubladas que perdera enfiada num moletom sem
graça assistindo o futebol que tanto odiava. Culpava-se por todo o chocolate em
excesso que comera porque eles estavam em crise e por todas as palavras
ridículas de raiva e depois arrependimento que se seguiam, e das crises de
choro. Espera. Não era isso que estava a sentir naquele momento. Não era culpa,
arrependimento, tristeza, nostalgia. Era algo que já conhecia, só não lembrava.
Era uma sensação gostosa, sabe? Daquelas em que sentar para ler um livro sob
uma árvore significa paz. Ela agora, parecia poder escutar o som de seu
coração, “tum-tum, tum-tum”. Quando foi que deixou de prestar atenção nisso?
Será que foi quando achou que amar seria doar-se por inteira? Fazer o outro
feliz desde que isso custasse sua própria felicidade? Talvez fosse, porque
agora conseguia ouvir as batidas do próprio coração, conseguir imaginar as
borboletas voando livres e não presas no estômago, embora o bater de asas tenha
deixado uma leveza e certo remelexo ali dentro. Agora sorria bobamente com uma
frase precipitada, mas se entristecia com o passado lhe atormentando. Não é
tormento a palavra certa, mas sim, tentativas vãs de mudá-la e retirar aquilo
que estava sentindo naquele momento. Era tão bom se sentir viva novamente, como
se todo esse tempo estivesse inerte, adormecida para o que era, adormecida para
ela mesma. Então era isso, agora se sentia desperta novamente. Hibernara dentro
de sua casca mais uma vez, mas era primavera e estava disposta a explorar as
partes que decidiu ocultar um tempo, é que agora podia sentar horas e horas
vendo o pôr-do-sol e o nascer da lua sem que ninguém lhe apressasse por ter
final de campeonato. Podia contar as estrelas, perder as contas e recomeçar
quantas vezes quisesse, porque gostava mesmo disso. Encontrara a parte que se
perdera no relacionamento passado, não era saudável aquilo e por isso chegara
ao fim. Aprendera tanto, mas também se perdera um pouco e agora estava a se recuperar
de tudo que se passou. Nossa! Parecia que há muito tempo não se olhava no
espelho de verdade, olhando direto nos olhos parecendo enxergar a alma e
conversar com si mesma. Espera. Era da sensação das borboletas de que falava,
pois bem, era bom sentir aquilo novamente. Sonhar, o que sempre fizera, agora
não parecia tão bobo. Até os medos se tornaram outra coisa, agora se perdiam na
infinidade de palavras ditas para o espelho e todas as que ficaram em papeis
rasgados e velhos, que ela sabia que nunca leria novamente. Mas tinha a certeza
de que se lembraria das palavras, letra por letra como se fosse uma música a
ecoar dentro de si. E quer saber? Borboletas são mais bonitas livres e não
aprisionadas no corpo. Não precisava mantê-las naquele regato ácido de
sentimentos perdidos e confusão. Libertara-as, mas sabia que voltaria a sentir
o bater de asas e a sensação de leveza, porque agora, as borboletas estavam a
fazê-la voar também.
Laura Ribeiro
30 de julho de 2012
O Coração da Fênix - Capítulo V
No último capítulo do conto, Lily encontrara-se com a doce garotinha Lisy, que lhe alertara sobre o perigo, sobre o Anjo negro que estava à espreita e que tinha os mais profanos desejos............ Leia em: O Coração da Fênix - Capítulo IV
Imagem: peguei no Google há muito tempo
CAPÍTULO V - Tentada por um demônio
Aquilo que dizia
no carvalho, realmente acontecera, a fenda abrira-se, a menina disse-me que ele
saíra da árvore, e que eu era a pessoa para enfrenta-lo. Mas e o meu sangue,
que pingado sobre a mais bela rosa azul se transformava num néctar... Não fazia
sentido. Esse néctar teria alguma função, mas, que função? E como eu acharia
essa rosa? Ao menos nunca vi uma rosa azul que não em desenhos animados ou
fotografias, mas levando em consideração os últimos acontecimentos, não seria
difícil acreditar que isso pudesse existir... Afinal, eu vira pássaros que
renasciam de cinzas, não é mesmo?
Voltando
ao grande carvalho no centro da floresta, não avistei nenhuma das aves. Ao
entrar na árvore, vi muito sangue e penas por todos os lados... Engraçado se
elas renascem das cinzas quando morrem por qual motivo não havia nenhuma
sobrevivente? – pensei. Ao chegar ao centro exato da árvore, vi a grande ave
caída e fraca. Corri para tentar salva-la, mas quando cheguei, ela apenas
soltou um grito e morreu. No mesmo instante suas penas caíram e viraram
espinhos. Não segurei as lágrimas que logo despertaram de meus olhos e caíram,
ao cair sobre os espinhos da mestra, eles transformaram-se em botões de rosas,
e no mesmo instante abriram-se, rosas de todas as cores, vermelhas, amarelas,
violetas, cor-de-rosa, até negras e apenas uma, a maior e mais bela, era azul.
Então não pensei duas vezes e tirei do bolso aquela pena que a grande mestra me
dera, e com o cálamo cortei meu pulso
pingando o fluido escarlate que dele escorria sobre a rosa, por incrível que
pareça ao filtrar-se pela flor, o sangue ia perdendo a viscosidade e se ia
transformando em um líquido puramente fluido e de um tom dourado, era uma
espécie de néctar! Então, peguei minha coroa arranquei com dificuldade o Rubi
colocando naquele encaixe o néctar que caia cada vez mais. Assustei-me então,
com um vulto que passou rapidamente ao meu lado. Ao olhar para trás, fiquei
intensamente apavorada, e congelei, ao ver um anjo que tinha um aspecto
assustador e um olhar sombrio... Ele tinha nos lábios cortes e seus dentes
pontiagudos faziam jorrar sangue.
Era de
se imaginar quem fora o responsável pelo massacre das aves.
Olhei
para o néctar e resolvi arriscar que era aquilo que matava aquele ser
tenebroso. Quando ia em sua direção, ele caiu morto e atrás dele surgiu um anjo
magnífico, suas asas eram negras, ele tinha um corpo esbelto e seus olhos eram
tentadores, provocantes. A verdadeira flor do pecado. Então eu caminhei em sua
direção e peguei o néctar colocando-o em sua boca, e que lábios lindos eram
aqueles! A minha vontade era de beija-los naquele exato momento, mas eu não
sabia se ele era do bem ou do mal. Não deu tempo de questionar, pois no mesmo
momento que coloquei o néctar em seus lábios, ele regurgitou tudo e ainda mais
soltou uma risada irônica e com uma voz sedutora me disse:
-
Você
acha que seu sangue pode me fazer algum mal? Eu não sou aquele que irá te
destruir e sim aquele que irá te possuir, e já possessa será fraca... Não terá
condições para lutar.
-
Eu...
Não vou deixar você fazer isso, mesmo sendo muito tentador. Eu não vou cometer
um erro tão insano! - Disse-lhe.
Ele
então saiu da grande árvore, mas não havia derrotado-o.
Extremamente
desnorteada, e já quase perdendo os sentidos, percebi que mesmo sem ver, e sem ter
percebido, ele já tinha me possuído. Não entrando em meu corpo, mas sim,
deixando-me apaixonada!
Quando
olhei no espelho eu estava com outro vestido belíssimo, um lindo traje de
baile; em minha cabeça estava uma bela coroa, que combinava com o vestido negro
e cravejado de rubis.
Ao
sair do Carvalho, percebi que não estava mais na floresta e sim num salão de
festas. E um homem, ou ser, não tinha forma exata, anunciava a todos que ali
estavam:
-
Atenção,
com vocês a princesa LILITH!
Assustada
e curiosa entrei no salão que era enorme e tinha muitos seres de aparência
grotesca. Estavam todos de vermelho. Apenas eu estava de preto com rubis em seu
detalhe – aquilo tudo já estava bizarro demais, pensei. Eu não entendia o que
estava acontecendo, então aquele anjo veio em minha direção e disse:
-
Bem
vinda minha cara futura Rainha! Tu serás minha esposa, por toda a eternidade!
Terás o mundo inteiro a teus pés! É só entregar-me teu corpo e aquela pena com
a qual feriste teu pulso.
Eu
então sabendo que algo de errado estava acontecendo, mas por outro lado tentada
a viver com aquele anjo, sabendo que era o mais puro pecado, quase estendi minha
mão quando de repente, uma pessoa gritou: Não! Não faça isso. Não entre por um
caminho do qual não terá volta!
Ao
olhar para trás vi aquela garotinha estranha, que aos prantos me dizia:
-
LILITH
não seja insana! Você deve derrota-lo e não aliar-se a ele. Ele te trairá, e
ele quer a pena, não entregue, pois ela tem seu sangue, quando cortaste teu
pulso ela tragou toda tua energia. E se entregar a ele, ele roubará teu coração
que tem o ritmo da lapidação. Você sabe! O ser que se libertou daquela árvore
não foi um anjo ou um demônio e sim teu coração, tua alma de Fênix! Agora você é
uma delas. Não deixe que ele termine de possuir-te! Não!
Ao
terminar de me dizer isso, a garota virou um brilho incandescente e sumiu. Eu
então, confusa, sai correndo daquele lugar, mas antes dei um beijo naquele
anjo. Ao chegar na escada percebi que algo de errado havia acontecido, ao olhar
para trás ele havia tornado se cinzas e todos que ali estavam, não estavam
mais. Então, no ar, com letras distorcidas, a frase completou-se:
“O
puro néctar de teu sangue apenas despertará o desejo do pecado. Não entregue tua
alma, não entregue teu sangue! Numa noite de chuva o espírito da ave de fogo será
selado em um coração tão puro quanto o mel, mas que ao apaixonar-se é capaz de
cometer as piores insanidades. Não entregue teu sangue a ele. Ele não merece
teu amor, porém este será a causa da tua derrota.”
Então
entendi... Nada daquilo o derrotaria, se não houvesse amor. Sim! Por que não?
Ele caíra por inveja, mas amava o seu Criador, não é isso que dizem os fieis?
Entretanto, não. Era loucura, aquilo tudo era loucura. Demônios não amam, só
desejam, e ele me desejava ao mesmo tempo em que queria me matar, e comigo
talvez não fosse diferente, afinal ele era um Anjo caído, um demônio, mas ainda
sim lindo como nunca vi ninguém! E claro, eu nunca fui cega. Amá-lo não seria
lá a coisa mais difícil, sempre tive o tal do “dedo podre” pra isso mesmo, só
que tudo aquilo não era um romance que se lê por aí, ele não era do tipo bom
moço que aceita um beijo e oferece flores. Ele era mais do tipo que quer o
corpo de uma mulher e em troca lhe rouba a vida. Comigo não seria diferente,
porque aquele beijo nunca mais se repetiria e amá-lo era me arriscar demais.
Deliciosamente arriscado demais.
••• Bem, enfim um novo capítulo! Ele estava precisando de alguma emoção e consegui finalmente revisá-lo para postar aqui. O próximo ainda não tem data certa, então, continuem acompanhando! Obs: para este capítulo dei um título, foi algo que me ocorreu na ora da postagem, não garanto para os próximos.
Laura Ribeiro =)
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